{escuro}

escuro

the lunar eclipse - pete ashton dark matter - david spriggs

escuro (es.cu.ro) adj. /s.m.

  1. Em que não há luz; obscuro, sombrio, toldado.
  2. Quase negro.
  3. Monótono, tristonho.
  4. Pouco lícito: negócios escuros.
  5. Que se ouve mal ou se distingue mal.
  6. (s.m.) Recanto sem luz.
  7. Noite.
  8. Escuridão, negrume.
  9. Lugar oculto; recôndito.

escuro, escuro mesmo, é quando não há, no momento exato do escuro, nada mais no mundo além de você e da sua memória das coisas.

é quando anoitece e o mundo vem ventar em seus olhos fechados as sombras de todas as coisas que, desde o primeiro dia, já existiam. as sombras dançam dentro dos olhos, quebram e ecoam seco como o mar cinza em um dia nublado. as sombras viram outras sombras e a noite é eterna.

o escuro é sólido, fosco, denso. o que se vê dele é só a sua ausência porque ele se define, como o amor e outras doenças, por aquilo que ele não é.

o cheiro da chuva de ontem, a respiração ruidosa dos outros, a cortina que encosta áspera em seu rosto quando bate o vento: no escuro, o lugar de tudo é dentro e evitar anoitecer é como adiar a morte com a morte.

eu penso assim, que se existirmos profundamente no escuro, nós nunca mais deixaremos de existir.

{escrever}

escrever

o livro das coisas silenciadas - o jardim branco o livro das cartas jamais escritas - o jardim branco o livro do que ficou por dizer - o jardim branco o livro dos segredos - o jardim branco pequeno livro de cabeceira - o jardim branco

escrever (es.cre.ver) v.

  1. Representar por meio de caracteres ou sinais gráficos.
  2. Exprimir-se por escrito.
  3. Copiar.
  4. Compor ou redigir um trabalho literário ou científico.
  5. Dirigir carta a alguém.
  6. Cartear-se, corresponder-se.
  7. Fixar, gravar.
  8. Descrever.
  9. Alistar(-se), arrolar(-se), inscrever(-se).
  10. Andar em curvas ou ziguezagues.
  11. E. com luva branca: escrever com delicadeza, sem dirigir insinuações malévolas, sem ofender. E. letras: fazer letras. E. na areia: fazer coisa que não dura.

escrever já esteve mais próximo ao desenho. era tão mais próximo que, por vezes, a urgência de um se confundia com a do outro. e o gesto e o cheiro de papel e o afeto e as pequenas mortes.
à noite, na cama, no amarelado da quase penumbra, com o lápis na mão, com a folha encostando no rosto, ainda as confundo. é a melhor hora do dia.

“Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem fazer ruído.”
Marguerite Duras, Écrire (Paris, Gallimard, 1993, p. 34)

 

Clarice falando sobre escrever. Parte 2 da entrevista para Tv Cultura, 1977

The Pillow Book (trailer) – Peter Greenaway, 1996.