silêncio (si.lên.cio) s.m.
- Ausência completa de ruídos; calada.
- Estado em que se cala ou se abstém de falar.
- Abstenção voluntária de falar, de pronunciar qualquer palavra ou som, de escrever, de manifestar os seus pensamentos.
- Taciturnidade.
- Interrupção de um ruído qualquer.
- Abstenção de publicar qualquer notícia ou fato, de comentar o que é geralmente sabido.
- Descanso; estado calmo; estado de paz, de inação.
- Interrupção da correspondência epistolar.
- Mistério, segredo.
uma onda quebra na pedra, um mosquito voa e bate no vidro, sua própria respiração por dentro, de repente estalar os dedos, o ar-condicionado da sala ao lado, a lembrança da voz de alguém que já morreu e agora soa afogada como um soltar o fôlego embaixo da água opaca do lago. alguém impaciente buzina à espera de uma pessoa que ele já deixou de amar enquanto um homem desce a rua assoviando o fim do dia.
eu, quando exausta, fecho os olhos e escuto. nada na vida é silêncio. uma pomba prende a pata entre os galhos da árvore em frente à minha janela e rege, com o bater desesperado das asas cheias de migalhas, uma pequena rebelião em plena luz do dia. tudo é tão cansativo.
tenho a impressão de que o grande silêncio – aquele que talvez exista dentro da morte ou tenha existido antes de antes de antes de qualquer coisa – é redondo e imensurável, cujo centro é tudo. a gente vive mesmo é nas frestas, os silêncios viscosos e doces e enjoativos e surdos e breves e mornos e etéreos. os seus minúsculos e esparsos fragmentos. o instante entre uma música e outra, pensar em algo rápido antes de mentir, depois de prender o ar e antes de afundar a cabeça inteira na banheira, quando se acorda assustado da queda vazia que é o começo do sono. quando tento alcançar o silêncio, acabo costurando um barulho seco no outro, num emaranhado de sons curtos e abafados, porque o silêncio mesmo é inconcebível. silêncio ou é ou não é. eu só conheço o avesso dele.