{tempo}

6 de janeiro de 2012

tempo (tem.po) s.m.

Medida de duração dos seres sujeitos à mudança da sua substância ou a mudanças acidentais e sucessivas da sua natureza, apreciáveis pelos sentidos orgânicos.
Uma época, um lapso de tempo futuro ou passado.
A época atual.
A idade, a antiguidade, um longo lapso de anos.
A existência humana considerada no curso dos anos.
Época determinada em que ocorreu um fato ou existiu uma personagem (com referência a uma hora, a um dia, a um mês ou a qualquer outro período).
Ocasião própria para um determinado ato; ensejo, conjuntura, oportunidade.
Sazão, quadra, período próprio de certos atos, de certos fenômenos, da existência de certas qualidades.
Estação, quadra do ano adequada a certas fases da natureza e aos trabalhos que delas dependem.
Estado meteorológico da atmosfera; vento, ar, temperatura.
Horas de lazer, horas vagas.
Delonga, dilação, prazo.
Gram Flexão que indica o momento de ação dos verbos.
Mús Cada uma das divisões do compasso.
Mús Movimento com que se deve executar um trecho musical e que se indica por meio de determinadas expressões.
Metrif As diferentes divisões do verso, conforme as sílabas e os acentos tônicos.
Mec Quantidade de movimento de um corpo ou sistema de corpos, medida pelo movimento de outro corpo, supondo-se que os dois movimentos são proporcionais.

o tempo é o acúmulo de pequenas frações de si mesmo. nele nascem e morrem os amores, se perpetuam as ideias brilhantes e os grandes horrores, se apagam as memórias da dor, se abandonam as palavras ásperas. dele se alimentam o esquecimento, a saudade, a espera. ele suaviza as montanhas. nele, e só nele, se existe.

enquanto os impérios caem e os deuses nascem, a xícara de chá esfria na mesa da sala de estar. porque o tempo é infinito – majestoso e complexo – mas é também pequeno, ordinário, das coisas simples que pertencem aos dias. o tempo de um abraço, o passo da respiração, o tempo dos lençóis ao sol, o tempo que se tira de uma coisa para dar a outra. os segundos antes de negar o amor. o movimento dos planetas. esperar ferver a água do café.

o tempo é o que continua a existir antes e depois de qualquer coisa.

o tempo tem mesmo sido impassível e até um tanto quanto indelicado comigo. por isso não tenho estado aqui e peço desculpas.

{quase}

29 de agosto de 2011

quase (qua.se) adv.

Não completamente, mas faltando pouco para isso.

o dicionário hoje está sucinto e eu não:

o cheiro de bolo no forno;
quando, do alto da estrada, se avista o mar;
quando parece que se vai morrer de amor e não se morre;
tomar um fôlego curto, sonoro, profundo, e desistir. e deixar no ar o cheiro das coisas que não foram ditas por um triz;
as últimas páginas de um livro;
tentar se lembrar de algo que está sempre a milímetros do alcance da memória;
rasgar uma carta escrita e nunca enviada;
o primeiro cigarro de um dia em que se decidiu parar de fumar;
um beijo no canto da boca;
o momento em que se desiste de alguma coisa pra sempre;
turbulências;
quando você chega em um lugar e sente apenas o cheiro da pessoa que acabou de sair;
os milionésimos de segundo em que algo parece fazer perfeito sentido antes de não fazer sentido algum;
dormir no final do filme;
os amores interrompidos;
o olho quando começa a arder um pouco, segundos antes de lacrimejar;
sentir o vento de alguém que atravessa a rua em sentido contrário;
estar adormecido sem dormir;
precipícios;
noventa e nove vezes qualquer coisa.

{ninho}

17 de julho de 2011

ninho (ni.nho) s.m.

Pequena habitação feita pelas aves para a postura dos ovos e criação dos filhotes.
fig. Lugar onde se recolhe qualquer família de animais.
Lugar onde as fêmeas parem e criam.
fig. Lugar resguardado, de abrigo; refúgio, retiro.

tem horas que o melhor mesmo é ser passarinho. além de tudo – antes, talvez, de quase tudo -, eles vivem em ninhos. não essa qualquer coisa que chamamos de ninho, mas um ninho construído fiapo por fiapo, migalha por migalha, folhinha por folhinha. pela boca. desses que tomam o cheiro, o calor e as formas do corpo. desses que viram quase uma extensão do corpo.

o ninho é um instinto. alguns pássaros amaciam os ninhos com as próprias penas e poucas coisas no mundo são mais bonitas que isso.

{meia-noite}

30 de junho de 2011

meia-noite (mei.a-noi.te) s.f.

A vigésima quarta hora do dia.
O meio da noite. || pl.: meias-noites

de repente é meia-noite. é no escuro que um dia vira outro: no meio da noite, nasce o dia. é nesse instante, nesse micro instante, que a gente se engana pensando que vai vivenciar um milionésimo de segundo do amanhã mas futuro é uma palavra que muda de coisa, só para permanecer intocável. e agora sempre é hoje.

{jaca}

23 de junho de 2011

jaca (ja.ca) s.f.

Fruto da jaqueira (Artocarpus heterophyllus).
Fruto grande, de casca verde e muito áspera, de gomos amarelados, saborosos e de cheiro característico.

nas jacas há algo de pré-histórico. parece que, antes de tudo existir, elas já existiam. não só a espécie, mas as jacas, cada uma delas.

no caminho para o antigo atelier de gravura, ficava sempre atenta à iminente queda das jacas. evento que, em dez anos, nunca presenciei. aproveitava para observá-las penduradas, enormes e imóveis, como grandes répteis introspectivos, desses que, quando estão a dormir ao sol, nada mais acontece no mundo.

{girassol}

14 de junho de 2011

girassol (gi.ras.sol) s.m.

(Bot.) Planta composta ornamental, de sementes oleaginosas (Helianthus annuus), cujas flores se voltam para o Sol.
(Min.) Variedade de opala, de que saem reflexos azuis, vermelhos e amarelos quando se faz girar a pedra ao Sol.
G.-de-batatas: o mesmo que tupinambo. G.-do-campo: planta composta (Zecmenia rudis). G.-do-mato: planta composta (Grindelia discoidea). G.-miúdo: planta composta (Helianthemum vulgare). G. pequeno: planta composta (Helianthemum cucumerifolius).

uma vez, espalhei sementes de girassol mexicano por todo o jardim, achando o gesto mais poético que efetivo. naquela época, muitas coisas não davam em nada e por isso me espantei quando, em pouco tempo, o jardim estava povoado por seres estranhos – maiores que eu, na lembrança -, com folhas largas e pétalas de um laranja que nem sequer existia até então.

observava-os em silêncio, de longe, com encantamento e um pouco de resguardo. uma lenta massa brilhante, em obstinada e quase imperceptível coreografia, na incansável repetição dos dias. acordavam para seguir, com assustadora devoção, os movimentos previsíveis do sol. depois dormiam, exaustos e desordenados. eu, que não acreditava em nada, invejava os girassóis.

{frio}

13 de junho de 2011

frio (fri:o) adj.

Que está ou que tem a temperatura baixa.
Falso ou sem valor legal.
Desengraçado.
Indiferente, apático, insensível.
Cruel.
Inexpressivo.

s.m.

Sensação produzida pela falta de calor pela baixa temperatura.
O inverno
Carnes, salsichas e outros embutidos em conserva ou defumados.

(acho injustas as conotações do frio…)

7 graus, eu mal sinto a ponta dos dedos.
tem algo de definitivo na introspecção do frio. de cada dia frio, parece que a gente sai com um pouco mais consciência de si mesmo. por dentro.

{amora}

28 de maio de 2011

amora [ó] (a.mo.ra) s.f.

Fruto comestível, pequeno, macio, constituído pela agregação de pequenos glóbulos, e de cor roxa ou negra.

(letra a. confesso que primeiro pensei em amor, para depois pensar em tudo mais que existe. a verdade é que estou agitada e não quero falar de amor.)

amora é uma frutinha tão pequena quanto prolixa e que está na lista das minhas coisas preferidas. todos os domingos saio para colher amoras, mesmo quando elas não estão lá.

o dicionário abreviou o que, para mim, é a graça visível das amoras: das folhas um pouco grosseiras, mas meticulosamente recortadas, emergem esses pequenos aglomerados de esferas dos mais variados tamanhos, formas e cores. o dicionário não consegue apreender as amoras, livres, em seu vasto universo.

{início}

23 de maio de 2011

início (i.ní.ci:o) s.m.

Ato ou efeito de iniciar(-se); começo, princípio.
Estreia, inauguração, abertura.

pode não ser algo inovador começar as coisas pelo início, mas sempre funcionou bem.

o início de um projeto que estava guardado na gaveta de cima, apenas esperando a hora de. começar a ler um livro que um dia se tornará o seu livro preferido. o início de uma viagem, de uma caminhada, de qualquer coisa desejada há horas, há meses, há séculos. abrir um caderno novo e jurar que, desta vez, escreverá com a sua melhor letra, do começo ao fim. quando chega o dia de colocar em prática uma promessa de ano novo, mesmo que não exatamente deste ano. mesmo que dez anos tenham se passado e as coisas tenham estado fora de lugar e você tenha se esquecido e se lembrado inúmeras vezes e agora é chegada a hora.

todo início traz uma percepção diferenciada do que está por vir. há sempre a pequena sensação de que, daqui pra frente, …

eu bem gosto de começar as coisas. nem sempre as termino e algumas nem são, por si só, finitas. faz parte também aprender a aceitar o tamanho da vida da gente.

As palavras e as coisas

fotografia